03 março 2009

 


Gêneses e Êxodos

Num planeta em que o Windows é utilizado em 91% dos computadores, é raro encontrar pessoas que foram alfabetizadas em Linux: a grande maioria tem Windows como língua nativa. Os usuários de Linux normalmente adotam o Linux depois de já terem crescido com o Windows. Crescer com Windows pode ser um trauma na infância de qualquer um, mas isso é o que ocorre com a grande maioria das pessoas que utilizam computador no Planeta Terra.

Meu primeiro contato com Linux ocorreu no final de 2005, com um LiveCD do Kurumin, após alguns contatos prévios com o mundo do software livre por intermédio do Firefox. Sem instalá-lo, rodei o Kurumin numa máquina do escritório onde eu trabalhava, e percebi que ele era amigável. No 1º semestre de 2006, instalei um 2º HD de pequena capacidade na minha máquina de trabalho e nele instalei o Kurumin sem nenhum problema. O dual boot funcionava corretamente, o Kurumin reconhecia todo o hardware (inclusive lia o HD do Windows normalmente), mas eu infelizmente não conseguia acessar a rede do escritório e a Internet. Embora eu continuasse adepto do software livre e do Linux, confesso que fiquei desanimado, não me empenhei muito em encontrar uma solução para o meu problema, e assim continuei utilizando Windows, com o Kurumin de lado no meu pequeno HD.

No fim de 2006 e início de 2007, com mais disposição para fazer do Linux uma realidade no meu computador, conheci melhor o Ubuntu e sua doutrina, que, a cada dia, tornavam-se estrelas em ascensão no mundo do Linux. Nessa época, instalei o Ubuntu no meu 2º HD (eliminado o Kurumin que até então permanecia lá). Não houve qualquer problema na instalação, e o dual boot (que, juntamente com a integridade do meus arquivos de trabalho no Windows, era um dos meus maiores receios) funcionou normalmente. A grande boa surpresa foi a conexão completamente automática à Internet: apenas instalei o Ubuntu e, ao iniciar o sistema pela primeira vez, eu já estava conectado à Internet. A grande boa surpresa foi então acompanhada por uma decepção equivalente: o Ubuntu não lia o HD do Windows. Mais uma vez, embora eu continuasse adepto do software livre e do Linux, desanimei e permaneci no uso diário do Windows. Eventualmente eu buscava alguma solução para o problema no Ubuntu, mas sempre sem sucesso.

No 2º semestre de 2007, conheci melhor o sistema de funcionamento do Linux e comecei a pesquisar mais profundamente as várias distribuições disponíveis, em busca de um Linux que reconhecesse todo o meu hardware, que lesse a partição do Windows (no mesmo HD ou em outro), que se conectasse facilmente à Internet, e que tivesse uma interface gráfica fácil, amigável, agradável e completa. Nessa época, resolvi que eu seria um usuário comum (tão comum quando meu tio Olavo) e que, portanto, não poderia depender de linhas de comando. Para mim, surgia então a idéia de que o Linux só se tornaria adequado ao grande público quando permitisse ao usuário comum realizar suas tarefas normais por meio de interface gráfica. Se, numa distribuição, uma tarefa normal (tal como instalar um aplicativo, por exemplo) demandasse terminal e linha de comando, essa distribuição não seria adequada ao grande público.

No fim de 2007, depois de breve pesquisa, colhi opiniões em alguns artigos, blogs e fóruns, e me decidi pelo Mandriva: seria uma distribuição bastante fácil e adequada a um usuário comum e iniciante, além de dispor de uma interface gráfica poderosa, que permitiria a um simples usuário realizar suas tarefas comuns, configurar facilmente seu sistema operacional e personalizar largamente sua área de trabalho. Mais uma vez, instalei uma distribuição de Linux no 2º HD do meu computador de trabalho (sobrescrevendo o Ubuntu até então instalado) e, fazendo uso apenas da interface gráfica, vi o Mandriva funcionar muito próximo do que eu esperava: reconhecia todo o hardware, lia o HD do Windows (embora não escrevesse nele), se conectava à Internet, e me permitia uma grande personalização da área de trabalho. De fato, só não passei a utilizar o Mandriva no trabalho rotineiro, porque eu não conseguia fazer o Mandriva escrever na partição do Windows e principalmente porque, no trabalho, eu era obrigado a utilizar Lotus Notes em versão para Windows.

Na mesma época, animado com o sucesso do Mandriva no trabalho, resolvi introduzir o Linux em casa. No meu computador doméstico, desfragmentei o Windows (para não haver problemas no particionamento), particionei meu HD, e instalei o Mandriva. Essa distribuição franco-brasileira mostrou-se novamente condizente com o que eu esperava dela, mas, no meu computador doméstico, houve um pequeno e crucial problema: o Mandriva não fazia o meu adaptador wireless USB (D-Link DWL-G122) funcionar corretamente. Durante várias semanas, tentei encontrar uma solução, sem sucesso. O sistema operacional até reconhecia o dispositivo, mas, por um suposto problema de driver (ou talvez por um problema de incompetência do usuário, que não conseguia configurar corretamente a conexão), não se conectava à rede sem fio da minha casa. Diante de tal fracasso, e sentindo que estava próximo de encontrar a distribuição que me fosse ideal, continuei minha cruzada.

Algumas semanas após instalar o Mandriva, testei o Kubuntu em LiveCD e ele também não fez a conexão com a minha rede wireless. O fracasso permanecia e, ao contrário dos primeiros tropeços, continuei a busca pelo meu Linux.

Como eu estava interessado no KDE (que havia me impressionado com o Mandriva e com o Kubuntu) e numa distribuição que me permitisse vasta configuração do sistema operacional por meio de interface gráfica, experimentei o openSUSE no meu computador doméstico (que tinha justamente o entrave do D-Link DWL-G122) e no meu computador de trabalho. O openSUSE basicamente funcionou como o Mandriva, mas com uma pequenina diferença: no meu computador doméstico, o adaptador wireless USB funcionou precariamente e conseguiu uma conexão completamente instável com a minha rede wireless. Sem conseguir uma conexão estável e sem conseguir escrever na partição do Windows, não me satisfiz com o openSUSE.

Finalmente, eis que, em 11 de janeiro de 2009, instalei o Ubuntu 8.10 no HD do meu computador doméstico e encontrei a plena satisfação: o Ubuntu 8.10 reconhece todo o hardware, lê e escreve na partição do Windows, faz o D-Link DWL-G122 funcionar corretamente, se conecta à rede wireless, me permite configurar a área de trabalho do jeito que eu quero, e me permite realizar a grande maioria das minhas tarefas comuns por interface gráfica. Agora, a cada dia estou aprimorando e personalizando mais o meu Linux, deixando-o do jeito que eu quero. Resultado: uso Linux, não uso Windows, e sou mais feliz.

 

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