11 julho 2009

 


Goobbels

É incrível o que a combinação de marketing e preconceito pode fazer. Recentemente o Google anunciou o projeto do seu sistema operacional (Chrome OS) cujo núcleo (kernel) é o próprio Linux. Em ato contínuo, os grandes meios de comunicação (e, por repercussão, a opinião pública em geral) se alvoroçaram, lançaram análises otimistas sobre o Chrome OS, e apontaram qualidades e vantagens que ainda não são concretas (porque o sistema operacional simplesmente ainda não está funcional e não é sequer conhecido fora das muralhas do Googleplex), mas que ameaçam a hegemonia do Windows.

Algumas qualidades do Chrome OS são qualidades do próprio Linux, que, quando anunciadas em sistemas operacionais GNU/Linux, são ignoradas ou desconsideradas, ao passo que, no Chrome OS, são vistas como reais vantagens. Isso é um dos indicadores do forte preconceito que o Linux sofre do público em geral e particularmente dos grandes meios de comunicação. Esse preconceito também existe (ainda que em menor escala) contra o software livre, talvez por associação com o Linux, talvez em razão do perigo que o software livre representa para os grandes produtores de software comercial.

De qualquer forma, por questões de estratégia mercadológica, o Google evita vincular o Chrome OS ao Linux, para que o marketing negativo e os preconceitos contra o Linux não afetem a imagem pública do seu sistema operacional. O Google vai além e também evita enfatizar ao grande público leigo que parte de seus softwares tem código aberto, e assim evita o mesmo marketing negativo que, em menor escala, existe contra o software livre.

Em resumo, o Google se aproveita das qualidades e vantagens do Linux e do software livre, mas, ao mesmo tempo, evita maiores vinculações com esse mesmo Linux e com o próprio software livre. Isso é uma grande estratégia de marketing, que toma algumas qualidades já disponíveis no mundo da informática, mas que paralelamente evita e contorna alguns preconceitos bastante arraigados nas pessoas.

Como o Google é uma grande empresa californiana de informática (entidade com fins altamente lucrativos) e busca os maiores lucros possíveis, não surpreende saber que ele evita o marketing negativo de seus produtos. À comunidade Linux, por sua vez, cabe outra estratégia de marketing: aproveitar o destaque e a boa receptividade que os produtos do Google recebem do público e dos grandes meios de comunicação, mostrar e ressaltar o aproveitamento e uso das qualidades do Linux e do software livre nos produtos do Google, e, dessa forma, desfazer muitos preconceitos.

De Goebbels a Jobs, mitos são criados e destruídos pela propaganda, e o Linux não pode desconsiderar isso. Ignorar a dinâmica do marketing é correr o risco de ficar no rodapé da História.

 

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